Uma Âncora para a Fantasia

By 19 de setembro de 2014novembro 11th, 2023Corpo Arquetípico

Trecho da apresentação::

Era o final do verão de 1998, em uma tarde de um dia qualquer, no sul da Bahia, na cidade de Prado. Sentada à beira do rio Jucuruçu, apreciando um lindo pôr do sol, fui profundamente tocada pela imagem do manguezal do outro lado da margem do rio. A imagem tomou o meu peito. O meu corpo se expandiu como se ela viesse para dentro de mim e me chamasse para dentro dela. Fui sentindo uma mistura de emoções: prazer, medo, curiosidade e a certeza de um grande mistério. Procurei um guia local para irmos juntos até o manguezal. Ele, intrigado com o meu desejo, perguntou: Você tem certeza que quer ir ao manguezal? Lá tem muito mosquito! O que você pensa em fazer lá?

Respondi: Não sei. O manguezal está desde ontem ao pôr-do-sol convidando-me para uma visita. Eu quero ir lá saber o que ele quer comigo.

Foi naquele instante que eu comecei a falar com os pacientes sobre o mangue e a formar grupos para contato e convívio interno e externo com a natureza. Cheguei a conduzir um grupo com 17 pessoas, todos meus pacientes. Foi uma tortura, uma loucura que me levou aos poucos a ir reduzindo e selecionando melhor de forma que os participantes também estivessem em sincronicidade com o trabalho que ia gradativamente se apresentando. Continuei sem saber exatamente o que fazia, mas achava importante viver aquela experiência e deixar os acontecimentos “rolarem”. Não tinha um “tema” pré-determinado, não era uma “vivência”. O objetivo era essencialmente interagir profundamente com aquela natureza.

 

Kathia Maria Nascimento

Trecho da discussão:

Isabel Labriola: É por isso que eu disse que tenho que usar meus amigos como referência. É preciso, não é? Já está tudo referente. No encontro passado eu disse que, com a apresentação da Carmem Marquez, quando vou falar de sandplay agora vou usar o trabalho dela como referência, porque ela intuitivamente foi descobrindo uma forma de lidar na areia, com as pedras. Agora vou usar você também, Kathia. Porque você fez um grande sandplay na sua vida. Na verdade, você tem atitude de fazer uma modelagem de sua alma, uma coragem, e essa coragem só tem quem possui uma liberdade interior de ir para o pântano, de ir para o charco, de ir para lá e buscar uma modelação que você ainda não sabe, que ainda vai se fazer. Você fez o mesmo percurso de Jung ao construir a torre; você está dando sentido e significado para cada pedra, ao barco que chega, às flores, à terra. Você está dando um corpo ao seu destino ali. Que maravilha! Uma maravilha, minha amiga. Muito obrigada.