Fatias do Consumo

By 8 de setembro de 2014novembro 11th, 2023A Alma do Consumo

Trecho da apresentação:

Esta noite tive um sonho.
Sonhei que facas voavam em torno do meu corpo lutando entre si.
O que queriam?  Por quem lutavam?
Por um pedaço de mim.

Os especialistas do mercado se organizam para nos separar em finas células. Conectados às nossas feridas narcísicas criam ilusões e promessas de completude. Passamos a existir vítimas deste movimento que não cessa.

Dentro da realidade atual o consumidor vive a ilusão de atuar com liberdade diante de suas escolhas, mas é o desconhecimento de suas próprias ideias perante os objetos de desejo, que cobre seus olhos com os véus de Maia. Podemos consumir e estar presente ou podemos sumir dissolvidos na ideia que nos consome.

Se tudo o que está dentro também está fora, se tudo o que é inconsciente é projetado, então este fatiador nos serve, atendendo com muita competência nossas necessidades. Somos ao mesmo tempo fatia e fatiador.

Lunalva Chagas

Trecho da discussão:

Gustavo Barcellos: Você põe a conversa num outro lugar. Sai um pouco do que falávamos pela manhã, do tempo, do devoramento. Aí já é a imagem do dilaceramento, talvez, não é? Como isso pode ser dilacerante, não é? Acho que é aí que você queria chegar…

Claudio Soares: É um fatiamento, um refinamento do corte e da fantasia. As cabeças que criam e que pensam nas estratégias de mercado tentando ser cada vez mais específicas nas fantasias que a alma das pessoas está pedindo.

Roberto Straub: O  consumidor está em qualquer classe de qualquer idade, é simplesmente uma pessoa que tem uma fantasia, uma idéia, uma voracidade, seja lá o que ele tiver, para aquele produto. Não está necessariamente associado a um padrão que você possa entender.

Gustavo Barcellos: Acho que estamos tentando entrar na alma do mercado, estamos tentando sentir a psique do mercado.

Gisele Sarmento: Porque a lógica da psique é fantástica, é o fatiado, e é a totalidade.

Gustavo Barcellos: Aí que que entra sua reflexão, porque você retratou uma fantasia, da qual todo mundo deve se sentir mais ou menos vítima, que é essa coisa do fatiamento, de estar sendo dilacerado.

Cecília Marcondes: Mas o que me chama muito a atenção nessa fala da Lunalva, é que também somos fatiadores, então eu não sou só dilacerada pelo mercado, é claro que eu vou desembainhar, eu saco a espada! Tenho que tomar cuidado com isso, quer dizer, que na hora em que ela sair da bainha, ela pode se voltar contra mim. Na medida em que eu sou também o fatiador, quando a gente fala “o mercado, o consumo”, estou lá também, eu sou devota daquilo, aquilo está me atendendo de alguma forma. Eu gostei muito dessa colocação, eu não estou sendo só massacrada, e se eu estou sendo massacrada, o que em mim me massacra através do mercado?