Notícia de um Encontro

Gustavo Barcellos

Minha amizade e minha formação profissional com James Hillman fez com que as pessoas interessadas num mergulho de maior profundidade naquilo que se convencionou chamar de psicologia arquetípica — vertente revisionista da psicologia analítica de C. G. Jung a partir da obra de Hillman — me procurassem para a formação de grupos de estudo.

Esses grupos foram se criando e se expandindo ao longo dos anos, e dos temas, inclusive para fora da cidade de São Paulo (onde moro e trabalho), e tive assim a oportunidade de poder aceitar coordená-los em lugares tão diferentes quanto, por exemplo, Campinas, Curitiba, Porto Alegre e Salvador, onde até hoje desenvolvemos atividades de leitura e discussão, geralmente em seminários de final de semana, da obra não só de James Hillman, como também de outros teóricos da psicologia arquetípica.

Com o passar do tempo foi surgindo naturalmente a vontade, não só em mim, mas em vários dos amigos que se fizeram a partir desses laços, de se criar uma oportunidade para que as pessoas integrantes desses diversos grupos isolados pudessem se encontrar para se conhecer, trocar idéias e se divertir. Essa oportunidade, que resolvemos chamar de “Encontros dos Amigos da Psicologia Arquetípica”, nasceu desse movimento em busca de amigos.

Pareceu-me importante fazer girar as discussões desse primeiro Encontro em torno de um tema específico, que pudesse aglutinar reflexão e psique. O tom de um encontro não institucionalizado entre amigos me fez sentir como oportuna a proposta de discussão de uma questão que vai se achegando nos mais diversos campos da experiência humana nesse início de milênio, e que pude então formular em sua designação junguiana de “arquétipo fraterno.”

Para as noites e dias frios do início do inverno de 2001 marcamos então o Encontro, que pode ser realizado diante do deslumbrante cenário da Serra da Mantiqueira, no seu recorte ao redor de São Francisco Xavier, vilarejo recôndito do interior de São Paulo, onde está localizado o Sítio Pedra Grande que nos acolheu para uma programação de palestras, conversas e refeições compartilhadas.

Como uma oficina de idéias e de debate, foi assim tomando corpo este compromisso descompromissado que tem reunido, ao longo dos anos desde 2001, pessoas vindas de diversos lugares do país, e com diversas ocupações profissionais: principalmente piscoterapeutas e analistas junguianos, mas  também arquitetos, filósofos, sociólogos, artistas, poetas, educadores, atores, engenheiros, músicos, cozinheiros, todos engajados no estudo ou no impacto que as ideias da psicologia arquetípica tiveram ou têm em suas vidas.

Nos livretos que produzimos após cada Encontro encontra-se o registro gravado das breves palestras preparadas por alguns colegas sobre o tema de cada ano, bem como das discussões que se seguiram a cada uma delas. Essas discussões, registradas e editadas, são realmente um artesanato de idéias, uma criação coletiva, e o coração desses Encontros. O privilégio do Encontro está neste fazer. Entendo que faz parte de um cultivo de alma.