A Psique é o Eixo do Mundo

By 14 de setembro de 2014dezembro 18th, 2014A Vida Psicológica, Gustavo Barcellos

Quando se liga ao simbolismo do Centro do Mundo e da Montanha (Eliade, Durand), a Torre é um eixo primordial, um axis mundi, como uma coluna ou pilar universal. A torre tem a ver, portanto, em diversas culturas, com a imagem arquetípica do eixo do mundo, que liga os três centros cósmicos: o celeste, o terrestre e o subterrâneo, na medida em que este é imaginado prolongando-se, muitas vezes, cravado debaixo da terra, em região infernal. É nesse Centro que o sagrado se manifesta, ou que nele tocamos. É um verdadeiro ponto de intersecção. Trazer o eixo do mundo para a alma apresenta a perspectiva junguiana no que ela tem de mais fundamental e radical: a psique é o eixo do mundo. A psique, não o homem, torna-se o centro e a medida de todas as coisas. Mas, tradicionalmente, há uma pluralidade de Centros. A preocupação axial é monocêntrica, ocupa-se em instituir um centro (eixo) em torno do qual gira o mundo. Trazê-la para a alma é surpreendente porque pluraliza a idéia, multiplica imediatamente os eixos. Trazer o eixo do mundo para a alma implica em imaginar uma pluralidade de centros, pois isto reflete a policentricidade nativa da alma. Foi o que fez Jung.

em “Re-lendo Babel: a imaginação religiosa da alma”, Voos e raízes, 2006